Na minha infância e juventude, apesar de os equipamentos serem normalmente mantidos em funcionamento durante o máximo de tempo possível devido a problemas de abastecimento do mercado, e mesmo aqueles que pareciam não ter reparação eram reparados, ainda assim, ocasionalmente, havia algo que não se reparava. Houve ocasiões em que as peças já não estavam disponíveis (por exemplo Ou as peças já não estavam disponíveis (especialmente para equipamentos muito antigos ou importados), ou ninguém podia ou queria repará-los. Isso não significava que os pais se apressassem a colocá-lo no caixote do lixo ou na recolha de sucata. Era-nos dado primeiro a nós, crianças. Claro que isto não significa que sejamos pequenos génios reparadores. Apenas nos era permitido brincar com ele antes de ser deitado fora.
Por isso, eu conseguia “arranjar” tudo. Despertadores antigos, receptores de rádio, caldeiras e até televisões. E sempre que arranjava uma coisa dessas, saltava para cima dela com gosto e sem hesitação.
O despertador parecia ser o mais fácil. Só tinha engrenagens, por isso pensei que se tirasse as engrenagens e as voltasse a montar, o despertador voltaria a funcionar. Claro que não consegui montá-lo corretamente, mas não foi nada de especial, porque o despertador não servia para nada.
O que eu gostava particularmente nos televisores e rádios antigos eram os tubos de vácuo que estavam lá dentro. Eram, afinal, interessantes “lâmpadas” de várias formas. Não as via em mais lado nenhum. Claro que também havia muitas peças que podiam ser desaparafusadas e, por vezes, cortadas com um alicate. Acreditem que, depois da minha intervenção, um televisor tão velho voltou a ser utilizável. Mas era como uma coelheira, só que sem as entranhas.
E a caldeira. Sabias que havia uma arma presa lá dentro? Não era real, mas com um pouco de imaginação parecia mesmo.
Por isso, gostei da minha infância. Não só para mim. E tenho muita pena das crianças de hoje que provavelmente nunca mais terão essa experiência. Porque as máquinas actuais não têm as peças grandes que as antigas tinham.
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